terça-feira, 23 de dezembro de 2008

ESPERANÇA


Veneno contra o câncer
Substância extraída de serpentes pode deter a migração da doença para o resto do corpo

Gustavo de Almeida



A equipe de Thereza descobriu que as proteínas dificultam ou impedem a proliferação das células tumorais
A ciência brasileira acaba de dar uma colaboração importante para que seja vencido um dos principais desafios no combate ao câncer: evitar a metástase, ou a proliferação do tumor para outras partes do corpo. Um estudo coordenado pela professora Thereza Christina Barja-Fidalgo, do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), comprovou que proteínas isoladas do veneno de serpentes, as desintegrinas, reduzem significativamente a capacidade de ativação e migração das células cancerígenas. As substâncias foram extraídas do veneno da jararaca e de serpentes asiáticas.

A idéia de usar as desintegrinas dos venenos para impedir a proliferação de células tumorais para outros órgãos foi da aluna Isabel Oliva, durante o desenvolvimento de sua tese de mestrado. Ela observou que essas proteínas tinham a habilidade de bloquear ou alterar a função de outras substâncias (as integrinas), usadas pelas células doentes para sobreviver e se multiplicar. Após a seleção das serpentes, os testes foram iniciados, em 2005. Primeiro in vitro (somente em células) e depois com cobaias. Foram usados dois grupos de camundongos com melanoma - o mais agressivo tipo de câncer de pele, com grande capacidade de formar metástase, especialmente nos pulmões. Um deles recebeu desintegrina e outro, não.

O que se viu foi surpreendente. Entre os que foram medicados, a metástase diminuiu ou simplesmente foi interrompida. Nos outros, o tumor avançou. O que os pesquisadores ainda não sabem ao certo é se o efeito das proteínas será o mesmo em outros tipos de tumor.

Os resultados iniciais do trabalho foram publicados na revista científica Toxicon, especializada na área de toxinologia (estudos sobre toxinas). O próximo passo, segundo Thereza, é esclarecer as dúvidas que ainda restam e desenvolver um substituto sintético para o veneno. "Agora que já fizemos as descobertas com proteínas nativas, queremos poupar as serpentes e usar a biotecnologia. Vamos produzir bactérias que fabriquem as proteínas necessárias", afirma.

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