domingo, 23 de novembro de 2008

ENTREVISTA COM MINISTRO DO ESPORTE



Orlando Silva
Esporte: um direito social no país.

Firmar o esporte como um direito social em todo o território nacional. Esse é o objetivo fundamental do ministro da Pasta, Orlando Silva que considera ter a sua tarefa facilitada porque, como diz, "a prioridade do presidente Lula, que é cuidar das pessoas, repercute também no esporte." Mais jovem ministro do governo Lula e um dos mais jovens da história de 219 anos da República iniciou sua trajetória pública como uma boa parte das lideranças políticas brasileiras, no movimento estudantil, como presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), entre 1995 e 1997.

Como ministro Orlando Silva organiza desde já a realização no Brasil dos Jogos Mundiais Militares em 2011, o maior evento esportivo do mundo depois de uma Olimpíada. Sobre o Brasil sediar a Copa do Mundo de futebol em em 2014, o ministro do Esporte está otimista: "É a maior plataforma de promoção internacional que o país pode ter porque o futebol, a Copa da Fifa é o evento de maior publicidade na mídia. O Brasil vai ser ainda mais conhecido a partir da Copa do Mundo."

Com habilidade e maestria políticas Orlando Silva movimenta-se e administra a ambição de 12 grandes cidades brasileiras, todas querendo sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, uma disputa ingrata - e de dificil gestão para ele - quando a FIFA até o momento permite no máximo 10 cidades numa Copa.

Referência nacional não só no esporte, mas também na defesa dos direitos do cidadão, este baiano, formado em Direito e Ciências Sociais, integra, ainda, o Conselho Nacional de Juventude e o Conselho Nacional de Promoção de Igualdade Social. Na entrevista a este blog, o ministro destacou, entre outros programas de seu ministério, o 1º e 2º Tempos, voltados à inclusão e que atendem mais de 1 milhão de crianças e jovens em situação de risco social.

Nesta entrevista, o ministro comenta, ainda, a importância do Bolsa Atleta, a questão do patrocínio ao esportista, a candidatura do Rio de Janeiro às Olimpíadas de 2016 e como o seu ministério atua para que o Brasil realize mais eventos esportivos.

[Zé Dirceu] O Ministério dos Esportes tem tudo para ser o mais popular dentre todos os ministérios no país do futebol. Vamos rememorar as principais realizações em que o Ministério dos Esportes está envolvido no momento e num futuro próximo.

[Orlando Silva] Primeiro, (envolvido em) firmar o esporte como direito social. O presidente Lula criou o ministério em 2003. A partir daí, pela primeira vez, o país teve um órgão singular, que cuida só de políticas públicas de esportes. E a prioridade do presidente, que é cuidar das pessoas, repercute também no esporte. Nós criamos três programas sociais importantes.

O 1º e 2º Tempos, programa de inclusão social através do esporte, que tem como foco atender crianças e jovens do contra-turno da escola e que vivem risco social. O programa começou em 2003, foi crescendo aos poucos, e neste ano, atende algo como 1,1 milhão de crianças em todo o país. Devemos estar presentes em todos os Estados da federação. É um projeto estudado em todo o mundo. A ONU o tem estudado, e a comunidade ibero-americana o aponta como referência de políticas públicas para atendimento de infância e juventude. O Comitê Olímpico Internacional o chancelou como um dos principais projetos esportivos sociais do mundo.

Essa é uma marca do nosso governo, aliado a outro programa importante chamado Esporte-Lazer na cidade. Este é um programa intergeracional, não é específico, nem focado por segmento etário. Tem pessoas da melhor idade, adultos e um trabalho vinculado à portadores de deficiência muito importante. Diferentemente do 1º e 2º Tempos, que tem foco de atendimento sistemático, neste você tem atendimento sistemático e assistemático, ou seja, uma pessoa que não freqüenta durante a semana, pode ter a atividade física orientada no domingo, no feriado. É difícil mensurar o atendimento, mas já chega a milhares.

Uma terceira ação com foco social importante, veio do governo anterior, que produzia material esportivo nos presídios. Nós multiplicamos esse programa. Em todo o Brasil temos produção de material esportivo não só em presídios, mas em cooperativas. Quando assumimos o governo, havia pessoas na faixa etária superior aos 40 anos que tinham dificuldades de emprego. Hoje isso mudou, inclusive para essas pessoas . Nós organizamos cooperativas para produção de material esportivo, distribuído sobretudo nas escolas.


Podemos dizer que seja pelo 1º e 2º Tempo, seja pelo Esporte-Lazer na Cidade ou pelo Pintando a Cidadania – outro programa nosso - o governo Lula tem uma marca muito forte. Para nós, o outro lado da moeda , além do esporte social, é a idéia do esporte de alto rendimento. O governo Lula fez muita coisa, também na nossa área.

[Zé Dirceu] Como funciona o Bolsa Atleta, outro programa do seu ministério?

[Orlando Silva] O Bolsa Atleta resulta de uma lei do Congresso Nacional que permite ao atleta sem patrocínio receber uma ajuda todo mês. Atende crianças, o atleta escolar; universitários, atletas nacionais, internacionais e olímpicos. Quem recebe? O primeiro e segundo colocados da sua modalidade e que não tem patrocínio, evidentemente.

No primeiro ano, nós tivemos R$ 6 milhões para atender todos os atletas. Ficou a maior parte de fora. No segundo ano, pulamos para R$ 13 milhões e atendemos um contingente importante. Em 2007, com o dobro, de novo, R$ 26 milhões, atendemos 60% de todos os atletas. Neste ano, nós temos R$ 42 milhões e pela primeira vez, atenderemos 100% dos atletas. Hoje, no Brasil, atletas 1º, 2º e 3º lugares em sua modalidade, sem patrocínio, seja estudante que participa dos jogos escolares, seja universitários, olímpico, nacional ou internacional, todos receberão uma bolsa todos os meses para poder treinar e competir. E o dinheiro chegou aonde precisava chegar: ao atleta. Evidentemente, na medida em que nós atendemos, mais atletas são informados e vai aumentar a demanda, mas vamos atendê-la porque é muito importante e o presidente Lula quer que os atletas sejam bem cuidados, para que o Brasil evolua do ponto de vista esportivo.

Em cada região brasileira,
um centro de excelência esportiva

Temos feito investimentos em centros de excelência nas diversas regiões do país para obter alto rendimento também. Há um pronto desses centros funcionando em Manaus (AM). Tem outro, cuja primeira etapa foi inaugurada por mim, em Maringá (PR), e que atende o Sul. Tem um terceiro em fase adiantada de obras em Campinas (SP), para atender a região Sudeste. O quarto, do Nordeste, será em Recife, está na fase de licitação. E o do Centro Oeste está em obras em Goiania. Creio que até 2010, teremos cinco centros de treinamento de alto nível, um em cada região do país.

Agora, falei do social e do alto rendimento. Mas quero chamar a atenção para os investimentos. Um é em infra-estrutura esportiva. O Brasil tem um déficit em infra-estrutura esportiva. Negociando com o Congresso Nacional – porque o Congresso e os parlamentares têm direitos de oferecer emendas – nós os estimulamos a investir nas regiões que mais precisam. De 2003 a 2008, o governo federal repassou recursos para municípios e estados, e houve contratos para mais de 5 mil obras de construção ou reforma de equipamentos esportivos para enfrentar esse déficit. De pequenas obras em escolas até esse complexo que citei em Campinas. A infra-estrutura do esporte no Brasil está evoluindo.

O quarto eixo importante para nós, diz respeito a grandes eventos esportivos. A Copa do Mundo (2014), os Jogos Olímpicos 2016), e o Mundial Militar (2011) são grandes eventos que promovem o Brasil através do esporte. Esse trabalho é muito importante, gera emprego, promove o turismo, alavanca o esporte, motiva a população para a atividade física, e creio, põe o Brasil no circuito esportivo internacional.

Para concluir, na nossa agenda, temos o futebol que é muito importante. O estatuto do torcedor foi um passo, está se firmando cada vez mais. A Timemania até permitiu uma parte da reestruturação fiscal dos clubes.
[Zé Dirceu] Está conseguindo?
[Orlando Silva] Essa loteria cumpriu um primeiro objetivo que foi o realinhamento fiscal dos clubes e torná-los adimplentes. O segundo, de arrecadar mais recursos e criar uma nova receita para os clubes, foi atendido parcialmente, por quê? Houve um erro no lançamento da loteria. Primeiro, o preço do volante dela era R$ 2,00, enquanto as outras custavam R$ 1,00. Havia uma promessa do Ministério da Fazenda de que iriam todas para R$ 2,00, mas houve um período que não foi, e agora estão em R$ 1,75. A Timemania era mais cara e pagava menos. Isso desestimulou. O segundo erro, o apostador não aposta porque o clube dele pode ser beneficiado, mas porque ele quer ganhar o prêmio. É um problema do mercado de loteria, do mercado do jogo. Foi um erro de cálculo.

Também tivemos problemas na estratégia de mídia, e de marketin. Mas a Caixa Econômica Federal (CEF) a relançou enfrentando esses problemas, e eu creio que a Timania vai evoluir. Além de cumprir o papel fiscal, ordenar os clubes, ela também vai trazer dinheiro novo para fortalecer o futebol no Brasil.

[Zé Dirceu] Você falou da Olímpiada Militar. Como é a prática de esportes nas Forças Armadas?
[Orlando Silva] O esporte no Brasil tem duas raízes profundas. Uma, a matriz dos clubes sociais esportivos, digamos assim. Os clubes vivem uma situação de muita dificuldade, porque o país e o mundo mudaram. Há 40, 50 anos, o lazer, sobretudo das classes média e alta, era o espaço do clube social que tinha desde a festa no domingo, até os torneios esportivos. Ali você formava os atletas de alto nível. Ainda hoje eles têm um papel importante. Se você pegar o (Clube) Pinheiros em São Paulo, o Minas, ou a Sogipa em Porto Alegre, são clubes muito tradicionais e a delegação olímpica brasileira ainda deve muito a eles. Os clubes são uma matriz fundamental no esporte do Brasil.

Outra matriz, não só no Brasil, mas no mundo, são as Forças Armadas. O esporte foi usado historicamente para disciplinar a atividade de jovens que as integravam e desenvolver a aptidão física. Desde Napoleão, quando passou a haver o choque de confronto durante a guerra, a aptidão física é algo muito importante. Então, as Forças Armadas historicamente se vincularam aos esportes e no Brasil tem um papel importante. Vai acontecer no Brasil, em 2011, no Rio de Janeiro, os Jogos Mundiais Militares. Depois dos Jogos Olímpicos, é o maior evento em número de atletas, concentrados numa mesma cidade.

[Zé Dirceu] São todas as modalidades?

[Orlando Silva] Haverá as modalidades típicas das Forças Armadas, e tem algumas olímpicas também. Há uma diferenciação, mas o principal dos jogos olímpicos está lá, e algumas modalidades que a vocação é mais para as Forças Armadas.

Brasil no circuito do
esporte internacional
[Zé Dirceu] O Brasil vai sediar a Copa de 2014, e o Rio é candidato a ser sede das olimpíadas em 2016. Já começamos a fazer a lição de casa? Estamos em dia com o cronograma para realizar a Copa daqui a 6 anos. Os preparativos que já empreendemos, nos posicionam bem para conquistarmos a sede das Olimpíadas no Rio, daqui a 8 anos?

[Orlando Silva] A Copa do Mundo é uma grande oportunidade para o país. É a maior plataforma de promoção internacional que Brasil pode ter, porque o futebol, a Copa da Fifa é o evento de maior publicidade na mídia. O país vai ser ainda mais conhecido a partir da Copa do Mundo. O Brasil tem muito a crescer no turismo. O governo Lula já dobrou o número de visitantes internacionais no país, mas se compararmos com outros destinos turísticos do mundo, levando em conta nossas belezas naturais, sítios históricos e tradições culturais, constata-se que temos muito a crescer. Esse evento serve a esse objetivo, promover o país.

E é bom porque o promove na sua face mais moderna, um país competente, com capacidade de organização, desenvolvido, democrático, com estabilidade econômica. Tudo isso a Copa vai mostrar para o mundo. Há três semanas aconteceu um seminário da FIFA no Brasil, uma missão que dialogou conosco e com as cidades candidatas. A fase de garantias governamentais é nesse momento e o governo brasileiro ofereceu 11 – de matéria tributária, trabalhista, de propriedade intelectual, a um conjunto de garantias fundamentais para que o evento tenha sucesso. Dessas garantias, muitas serão transformadas em leis, outras em portarias, em normas do país. Isso, o diálogo a respeito está bem avançado no interior do governo. É uma fase importante, e tudo mais vai avançar a partir da decisão das cidades sedes.

Nós travamos uma luta hoje, para que o Brasil tenha 12 sedes. O Brasil é um país continental. Eu brinco que a França é do tamanho da Bahia. Então, em um país como o Brasil, 12 cidades é o mínimo para que possamos fazer uma copa nacionalizada. A Copa não pode existir no Brasil sem envolver a Amazônia, o pantanal brasileiro, o Nordeste, o planalto central. Para isso temos que ter 12 cidades. E ainda se fala muito em 10, que é o que a FIFA quer. Até março, quando se decidir o número de cidades- sedes, com as garantias governamentais acertadas, entraremos na segunda fase, de avançar na preparação propriamente dessas cidades.

Neste instante, um acordo do Ministério dos Esportes, e da CBF com a Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Equipamentos de Base (ABIDIB), faz um mapeamento das demandas de infra-estruturas das cidades candidatas brasileiras. Ele deve estar finalizado junto com a adição das cidades-sedes e vai ser enquadrado no PAC que já prevê investimentos fundamentais para a Copa – portos, aeroportos, estradas, tudo isso via PAC. Nesse trabalho com a ABIDIB vamos ver o que está excluído para incluirmos no PAC e garantir a atuação do governo federal, sobretudo, na infra-estrutura.

Cronograma em dia

Tudo isso vai acontecer no Brasil e aí a importância da Copa. A Copa do mundo é a oportunidade de antecipar investimentos que mais cedo ou mais tarde, o país teria que fazer. A promoção do país e a modernizacao da infra-estrutura são oportunidades que o país vai aproveitar.

O cronograma está em dia. A FIFA está muito atenta à copa da África do Sul. Antes disso, fará poucos movimentos para promover a Copa no Brasil. Nós temos que nos antecipar e preparar o país, sobretudo, a infra-estrutura. Uma conquista importante foi definida com a FIFA, resultante de uma proposta que fiz, pela qual um dos critérios para as cidades-sedes assumirem o direito de fazer a Copa do Mundo, é assinar um contrato juntos, estados e municípios, estabelecendo quem faz o quê e em qual prazo.

Essa foi uma lição dos Jogos Panamericanos. Não ter uma matriz de responsabilidade acaba deixando o governo federal, que é o fiador, tendo que assumir a responsabilidade. A FIFA concordou conosco, e incorporou essa proposta de documento formal. Os Estados e cidades vão ter que assinar e para nós é uma maravilha, porque todo mundo vai ter que cumprir o que prometeu.

[Zé Dirceu] A prefeitura do Rio de Janeiro, tem colaborado a altura para o país sediar as Olímpiadas?

[Orlando Silva] Há um esforço muito grande nosso para mobilizar a prefeitura e o governo do Estado, porque na avaliação preliminar feita com a candidatura do Rio, o item que o Rio teve uma nota maior foi o de garantias governamentais. Ficou claro para a comunidade internacional que o Rio tem apoio governamental, sobretudo do governo federal. Isso tem um peso muito grande, de mobilização, motivação. E ficou ainda mais claro agora nos jogos de Pequim, quando o presidente Lula defendeu a candidatura do Rio de Janeiro.

O prefeito (César Maia, do DEM) venceu o ciclo à frente da cidade do Rio de Janeiro. Não foi simples o convívio durante os jogos panamericanos. Mas acredito que o prefeito que assumirá o Rio, depois dessas eleições (Eduardo Paes, do PMDB), não pode perder a oportunidade. Desde que deixou de ser capital, o Rio ficou com uma vocação limitada. É uma cidade internacional, e a visão que o mundo tem do Brasil começa a partir do Rio de Janeiro. Com as Olimpíadas, o Rio poderá se relançar, como Barcelona aproveitou e fez, da mesma forma como Sidney virou um destino importante no mundo. Creio que o futuro prefeito do Rio terá que trabalhar duro. E eu espero que colabore com o Estado e com a União para que o Rio reencontre sua vocação de cidade internacional, e se lance a partir da realização dos jogos olímpicos de 2016.
[Zé Dirceu] Que ação o ministério dos Esportes pode fazer para o Brasil sediar ainda mais eventos esportivos? E para que o esporte traga mais visitantes e turistas?

[Orlando Silva] Fazer a Copa do Mundo em 2014 é uma grande missão. Conquistar os jogos olímpicos de 2016, outra, na qual acredito que temos chances reais. Cheguei de Acapulco (México) ontem à noite. Participei de uma Assembléia das Américas, 42 países presentes. Foi um encontro governamental com os ministros e um espaço para apresentação das quatro candidaturas: Madri, Tóquio, Chicago e Rio de Janeiro. Havia não só votantes das Américas, mas também um contigente importante de outros continentes. A impressão que tive é que o Rio impressionou muito. Muitos comentaram que foi a melhor apresentação e o que se percebe quando conversamos com dirigentes esportivos internacionais é que o Rio tem grandes condições de realizar os jogos olímpicos.

Fazer a Copa em 2014 é uma grande missão e juntamente com a Olimpíada de 2016, é uma missão espetacular para o país. Alguns questionam: "mas fazer dois eventos desse porte juntos?" Eu respondo: os Estados Unidos fizeram em 1994 e 1996. A Alemanha em 1972 e 1974. Dizem: "Mas são paises ricos?" Respondo que o México fez em 1968 e 1970. Nós podemos concentrar no período de 2007 do PAN a 2016, dez anos, um ciclo de grandes eventos internacionais que vai lançar o Brasil pelo mundo. Inclusive, é importante, até para preparar esse eventos, realizar mundiais aqui no país. Ano passado fizemos um mundial de judô, neste ano o mundial de futebol de salão, e faremos em 2011 os jogos mundiais militares.

Nosso objetivo é colocar o Brasil no circuito internacional, primeiro porque promove o país fora; segundo, porque ocupa as instalações construídas para esses eventos; terceiro, pauta o esporte na agenda nacional. O presidente Lula é apaixonado pelo esporte, o que facilita a nossa vida. Ele motiva a equipe para trabalhar pelo esporte.

[Zé Dirceu] Apaixonado e entendido.
[Orlando Silva] Essa é a parte que dificulta o nosso trabalho, porque ele é um crítico muito atento a tudo o que acontece no esporte nacional e mundial, inclusive. Eu diria que o Brasil entrou de vez para o circuito do esporte internacional e isso trará dividendos esportivos e sociais - porque colocará o país em grande movimento -, mas também econômicos. Existe uma cadeia produtiva do esporte que vai da produção de suplemento alimentar, da indústria de construção, da mídia especializada, à da promoção de eventos. Tudo gera emprego, renda e contribui para o desenvolvimento do nosso país.

Manutenção do projeto do governo:
uma necessidade para o país
[Zé Dirceu] Como militante do PC do B, somos aliados. Que avaliação você faz dos resultados eleitorais? Quais os desdobramentos dessa eleição em todo o Brasil?

[Orlando Silva] O presidente Lula e sua base foram os grandes vencedores dessa disputa de 2008. A oposição só não perdeu mais porque se apropriou das conquistas oferecidas ao país, pelo presidente Lula. Houve o esforço de despolitizar a eleição e transformá-la numa disputa local. E se (os candidatos) falavam algo de fora da cidade, sempre contextualizavam isso na relação amistosa que possuíam com o governo federal. Ou seja, a oposição foi hábil ao manipular as conquistas do governo federal de modo a não sofrer mais desgastes e derrotas.

Foi uma vitória importante que mostra a sintonia do povo brasileiro com esse ciclo novo aberto pela gestão do presidente Lula, um governo cujo desafio central é incorporar milhões de brasileiros que viviam à margem da vida social, econômica e política do país. Nós consolidamos a vitória no 2º turno, apesar de São Paulo (onde o PT perdeu) São Paulo fazer a diferença. É uma cidade importante, mas eu diria que no conjunto, nós, como base, ganhamos a eleição e nos fortalecemos. Fico feliz que os partidos com vínculos históricos com o PT - o PSB e o PC do B - também avançaram nesse processo. Isso é sempre bom para a esquerda. Bom você ter o núcleo base da esquerda mais fortalecido.

[Zé Dirceu] Como voc|ê vê a eleição de 2010, como analisa esse processo?
[Orlando Silva] A vitória que obtivemos essa ano, governo-PT-base aliada vai ajudar nas discussões de 2010. A sustentação do projeto do presidente Lula passa também por esse núcleo estar coeso e fortalecido. Nós temos uma esquerda mais aberta, que vive experiências diferentes.

Eu falo do meu partido que viveu nos últimos anos as primeiras experiências asdministrativas, de governo. Essas experiências transformam as forças políticas, impõem-lhes mais responsabilidades, permitem novos laços de vínculo político com o povo e com os outros segmentos da sociedade. Sempre ajuda na construção de políticas e programas. Creio que o PC do B será um partido diferente após esse ciclo de administrações que viveu.
[Zé Dirceu] Na sua avaliação o mesmo vale para o PT?

[Orlando Silva] O PT saiu fortalecido das eleições de 2008, mas com mais força. Em decorrência, ele tem mais responsabilidades e obrigações na capacidade de diálogo com seus aliados. E a ampliação do campo político para sustentar um projeto liderado pelo presidente Lula que é do PT. Chama a atenção no próximo período (de governo, 2011-2014)) a responsabilidade do PT. Ele tem de estar atento a ela, sob pena de se fragilizar e perder o que acumulou até aqui, no mandato do Lula e nas eleições que se realizaram nesse ciclo de governo liderado pelo presidente Lula.
[Zé Dirceu] Você acredita que temos condições de eleger o próximo presidente e manter o atual projeto de desenvolvimento? A Dilma (ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da república, Dilma roussef) teria condições de encabeçar uma chapa do PT com outros partidos para a disputa?

[Orlando Silva] O presidente Lula tem todas as condições de liderar um processo de articulação de um campo político que dê sustentação ao programa que ele conduziu até aqui. Manter esse projeto é uma necessidade para o país, inclusive, política. Nós incluímos outros atores à vida brasileira. Não só socialmente, e aí o Bolsa Família é a face visível, porque com ele percebemos a cidadania oferecida a partir de uma renda mínima para um conjunto importante da população brasileira.

A chamada nova classe média é outra face visível desse governo porque são números e contra números não se discute. Mas há uma dimensão política que envolve tudo. Sou de uma geração que viveu na política em que não havia canais de participação. Nosso governo introduziu canais através dos quais milhões de brasileiros passaram a ter uma vida ativa. Iniciativas de democratização e participação políticas são importantes. Seja pela inclusão social, pelo crescimento econômico e pela ampliação da democracia no país (o programa do governo Lula), é um projeto que precisa avançar. Tem novas conquistas a buscar. E o presidente Lula tem condição de reunir, agregar para isso. É um amplo leque. Evidentemente não é simples sustentar todos os 14 partidos que o apoiam numa coligação. Mas creio que o presidente da República será um pilar importante para estruturar essa renovação do projeto político.

Nós temos todas as condições de sairmos vitoriosos do processo, até porquê de 2002 a 2008, o que aparece é que nós nos fortalecemos. Nosso campo político que dá sustentação ao presidente Lula é o que (nesses anos) saiu mais fortalecido. Com algumas forças de centro, destacadamente o PMDB, onde há uma divisão muito forte, eu creio que há uma capacidade de diálogo muito eficiente para que possamos mantê-lo nesse campo. É importante que haja um diálogo eficiente e efetivo do núcleo fundamental da esquerda. É importante que este dialogue com forças mais amplas da sociedade, no espectro político eleitoral e com forças vivas da sociedade, porque só esquerda não dá. Ampliando, temos condições de de sustentar esse projeto envolvendo o PMDB pela capilaridade que ele tem no Brasil.

Mais que o candidato, é importante avançarmos no projeto de rumo para o país. Entendo a posição da ministra Dilma de não discutir o tema (sua candidatura), porque isso, nessa altura, atrapalha mais do que ajuda que está no governo. Temos que governar bem o Brasil, consolidar esse projeto. Ainda há muito a cumprir, falta mais da metade do mandato do presidente Lula. Agora, a hora é de aprofundar o diálogo entre os partidos, nucleados pela esquerda. Está na hora de ampliarmos o leque de forças que viabiliza nossa vitória.

Juventude: um dos segmentos
sociais mais beneficiados

[Zé Dirceu] Como ministro, jovem, liderança política que foi no movimento estudantil, agora trabalhando nessa área importante que é esporte, cultura e lazer, eu acredito que você se sinta realizado. Um dos principais problemas que temos é o da juventude, da periferia, da pobreza. Você sente mudanças com a produção do 1º e 2º Tempos, do Bolsa Atleta, equipamentos. Defendo que o país faça um grande investimento em equipamentos de lazer e esportes, educação e cultura nas grandes cidades, junto com investimento em saneamento e habitação. Temos o emprego crescendo. O Brasil irá criar quase 10 milhões de empregos até o final desse ano, uma revolução social para um país que não criava emprego.

[Orlando Silva] A juventude é um dos segmentos sociais mais beneficiados. Nas duas décadas em que o Brasil ficou paralisado, o país não crescia, a principal vítima foi a juventude. Durante os anos 90, você tinha, a cada ano, 1,5 milhão de jovens que tentava entrar no mercado de trabalho e passavam a constituir o contingente de desempregados. Uma parcela muito pequena conseguia ter acesso ao mercado de trabalho. Já as classes mais alta alongavam a permanência na escolarização, universidade, pós-graduação etc. Os mais pobres não tinham alternativas, constituíam o contingente de desempregados ou de sub-empregados. O crescimento da economia que vivemos hoje, fruto do projeto liderado pelo presidente Lula, primeiro permite a incorporação da juventude no mercado de trabalho. Segundo, e essa é outra conquista importante, proporciona a ampliação da escolaridade. Aí estão programas como PROUNI, importantes porque permitem qualificar. A qualificação profissional não é o fator decisivo porque se a economia não cresce, não adianta ter qualificação profissional. Mas é muito importante para permitir possibilidades diferentes para essa juventude.

Eu fico muito feliz de participar do governo e ajudar com políticas públicas que vão incorporado a dimensão esportiva do lazer. Agora, eu acredito que ainda há muito a fazer. Ao mesmo tempo em que fico alegre, feliz, com os resultados que observamos, tenho consciência que muito há de ser feito, sobretudo nas periferias das grandes cidades. Há um desafio muito grande, concordo com o que você falou. Precisamos qualificar o espaço urbano.
[Zé Dirceu] O Ministério dos Esportes tem algo nesse sentido?
[Orlando Silva] Lançamos neste ano um programa chamado Praça da Juventude. Vamos ver como vai evoluir no orçamento. O programa consiste em, numa área de 10mil m2, você oferecer equipamento esportivo – de um campo de futebol que anima muita gente, até um mini-ginásio, um mini teatro de arena que permita reunir pessoas em eventos culturais, caixa de saltos, uma pista de skate, enfim... Em 10 mil m2, com R$ 1,5 milhão você consegue instalar uma praça dessas e requalifica o espaço urbano.

O programa chama-se Praça da Juventude para motivar esse segmento que precisa ocupar o tempo livre de forma mais saudável. Mas suas instalações também podem ser utilizadas por toda uma cidade, por todas as regiões onde forem instaladas. Eu aposto muito nisso, em qualificar o espaço das cidades, torná-las mais humanas, e permitir que essa parcela da sociedade brasileira, tenha não só direito ao trabalho que nós queremos, mas também, ao não trabalho, de modo saudável, criativo, permitindo a integração social.

Fizemos muito no governo em seu conjunto, mas como a dívida é muito grande, nós temos muito a construir para garantir cidadania para essa parcela fundamental do nosso país. Parcela que não é o futuro, é o presente, e que tem um papel político importante a desempenhar , além do papel na economia, na sociedade.

Sou um dos ministros mais jovens da República, e fico muito feliz quando vejo prefeitos e deputados jovens. Temos que nos apropriar do espaço público para encaminhar os rumos do país, e a juventude tem um processo central nisso. Sempre teve. Na minha militância juvenil nós dizíamos que a juventude é a banda da revolução, é o que anima todos os processos políticos. A juventude, portanto, é um elemento muito vivo da sociedade, tem um papel, e deve assumir um protagonismo crescente.

Fotos: Tatiana Carlotti







Um comentário:

PRO BEACH VOLEI disse...

Que o PAN 2007 seja um aprendizado para o Ministro, que com todo respeito deixa a desejar no tocante à organização de mega eventos.Forma muitos improvisos e não pretendemos colocar na conta do Ministério,afinal havia o Co-Rio,a Secretaria de Estado , na jogada.Mas em se tratando de eventos de tala porte e natureza como esses citados pelo Orlando Silva, Baiano Ministro do 1 E 2 TEMPOS, de programas de lazer, que segundo a entrevista de Zé Dirceu são suceso de público e uma versão comtemporanea de políticas públicas.
A despeito dos resultados apresentados na rentrevista
postada nesse BLOG,
o Brasil necessita com urgencia
de um plano de revitalizaçao de
estádios ´, se é que realmente estão levando á sério
a vinda da COPA 2014.